
A telessaúde vem se consolidando como uma das maiores revoluções na área da saúde, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil. Com a expansão do acesso à internet e o desenvolvimento de novas tecnologias, a saúde digital tem permitido a realização de atendimentos médicos de maneira rápida, eficiente e econômica, beneficiando principalmente as populações que vivem em áreas remotas ou de difícil acesso.
Nos últimos anos, a telessaúde ganhou ainda mais destaque, sendo reconhecida como uma prioridade global durante o G20, onde líderes de todo o mundo destacaram seu potencial para transformar os sistemas de saúde. No Brasil, o programa SUS Digital, lançado em janeiro do ano passado, já realizou 4,6 milhões de ações de telessaúde até junho deste ano, incluindo teleconsultas, teleconsultorias para médicos e telediagnósticos. Esse número impressionante demonstra a eficácia e a necessidade de investir cada vez mais nesse tipo de atendimento.
O Impacto da Telessaúde em Comunidades Remotas
Um dos exemplos mais impactantes da telessaúde no Brasil é o caso da dona de casa Lindalva Ribeiro, que vive no quilombo Boa Vista, em Oriximiná, no Pará. Todo ano, ela precisava viajar cinco horas de barco para levar seu filho autista ao neurologista no centro da cidade. Essa viagem era cara e desgastante, representando quase 15% da renda mensal da família. Porém, em 2023, tudo mudou com a chegada da telessaúde. Agora, Lindalva e seu filho podem ser atendidos por um médico da Universidade do Estado do Pará (Uepa) sem precisar sair da comunidade. Essa mudança não só economizou tempo e dinheiro, mas também melhorou a qualidade de vida da família.
Esse exemplo é apenas uma amostra de como a telessaúde pode transformar a vida de pessoas que vivem em áreas remotas. O projeto Saúde Digital, desenvolvido pela Uepa em parceria com o Ministério da Saúde, está se expandindo para 30 municípios de difícil acesso no Pará, oferecendo consultas em diversas especialidades, como clínica geral, psiquiatria, ortopedia, cardiologia, dermatologia e fisioterapia.
Telessaúde no Contexto Global
A telessaúde não é uma tendência exclusiva do Brasil. Em todo o mundo, essa modalidade de atendimento médico está crescendo rapidamente, especialmente após a pandemia de Covid-19. No G20, a saúde digital foi destacada como uma prioridade, com o diretor do departamento de saúde e inovação da Organização Mundial da Saúde (OMS), Alain Labrique, afirmando que houve uma expansão maciça no uso de cuidados virtuais em todas as regiões da OMS. Países como a Colômbia e a Nigéria registraram aumentos significativos no uso de telessaúde, mostrando que essa prática é uma solução viável e eficaz para melhorar o acesso à saúde.
A Importância dos Núcleos de Telessaúde
No Brasil, parte do sucesso da telessaúde se deve à criação de núcleos especializados em diferentes áreas da medicina. Esses núcleos, localizados em universidades federais e hospitais de referência, oferecem suporte para unidades de saúde em todo o país, realizando diagnósticos e consultorias à distância. Um exemplo é o núcleo da Universidade Federal de Minas Gerais, que analisou mais de 900 mil eletrocardiogramas de 12 Estados entre janeiro de 2023 e junho de 2024. Na Universidade Federal de Santa Catarina, o foco é a dermatologia, com quase 500 mil diagnósticos realizados no mesmo período.
Esses núcleos não apenas aumentam a eficiência dos atendimentos, mas também ajudam a reduzir custos. Por exemplo, na Universidade Federal de Goiás, a análise de retinografias permitiu a detecção precoce de doenças oculares, como catarata e glaucoma, possibilitando tratamentos rápidos e menos invasivos, o que evita procedimentos cirúrgicos caros e complexos.
Telessaúde nas UTIs: Salvando Vidas à Distância
A telessaúde também tem se mostrado crucial no suporte a unidades de terapia intensiva (UTIs), especialmente durante a pandemia de Covid-19. O programa TeleUTI Conectada, lançado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, permite que médicos baseados em São Paulo monitorem em tempo real pacientes em UTIs de nove Estados. Essa prática não só melhora a qualidade do atendimento, mas também ajuda a reduzir a mortalidade, como foi observado em um projeto semelhante voltado para gestantes e puérperas com Covid-19, que resultou na queda de 40% nas mortes.
Desafios e Oportunidades para a Expansão da Telessaúde
Apesar dos avanços, a expansão da telessaúde no Brasil ainda enfrenta desafios, especialmente relacionados à conectividade e à infraestrutura. Regiões como o Maranhão, Amazonas e Pará ainda têm índices baixos de conectividade, o que dificulta a implementação de programas de saúde digital. No entanto, o governo brasileiro está investindo em iniciativas para superar essas barreiras, como o Programa SUS Digital, que destinará R$ 464 milhões para a digitalização da área da saúde.
Além disso, a integração de sistemas de informação de saúde, como o prontuário eletrônico, é fundamental para que a telessaúde alcance todo o seu potencial. Embora a Rede Nacional de Dados de Saúde já tenha mais de 1,8 bilhão de registros disponíveis, ainda há muito trabalho a ser feito para garantir que todas as unidades de saúde possam acessar e compartilhar informações de forma eficiente.
Conclusão
A telessaúde representa uma revolução no acesso à saúde, especialmente em países como o Brasil, onde as distâncias geográficas e as desigualdades regionais ainda são grandes desafios. Com investimentos contínuos em tecnologia, infraestrutura e capacitação, a telessaúde pode transformar o sistema de saúde, oferecendo atendimentos mais rápidos, baratos e acessíveis para todos. À medida que essa prática se expande, espera-se que mais brasileiros, como Lindalva Ribeiro e seu filho, possam se beneficiar de um atendimento médico de qualidade sem precisar sair de suas comunidades.